"O que é de verdade ninguém mais hoje liga: isso é coisa da antiga" - Ney Lopes e Wilson Moreira

Elsa (Frozen) ♥

domingo, 8 de julho de 2018

"Construção" - o álbum do Chico Buarque (1971)



Se antes de 1971 Chico Buarque harmonizava bossa nova com letras que faziam críticas veladas à Ditadura no Brasil, aqui neste álbum "Construção" (Philips/Phonogram - hoje Universal Music, 1971) o próprio Chico desconstruiu essa imagem que o público tinha dele e de suas músicas, sendo explícito ao falar do Governo da época. Só ouvindo este álbum é que a gente descobre por que é um dos melhores discos da música brasileira e por que é que muita gente rasga a seda pela empreitada. Eu também tô nessa. Uma das coisas que mais me chamou a atenção foi o arranjo pomposo do maestro Rogério Duprat (1932-2006) nas faixas "Deus Lhe Pague" e "Construção".
Em "Deus Lhe Pague", a faixa que abre o disco, Chico agradece à Ditadura em tom de ironia pela concessão de atos básicos ("pão pra comer", "sorrir", "respirar", etc). A faixa-título ("Construção"), em forma de jogo de palavras, narra a história do construtor civil em seu último dia de vida desde a saída de casa até o momento da queda mortal, o que serve de metáfora para a crítica à alienação do trabalhador na sociedade capitalista urbana e moderna na qual ele é reduzido a uma "máquina de fazer dinheiro". A morte em serviço na letra da canção não é tratada como um desastre e sim um empecilho, um obstáculo, confirmando que a tragédia só serve para atrapalhar o "tráfego"/"público"/"sábado".
O exílio é abertamente retratado na faixa "Samba de Orly". A letra foi feita como registrada no disco, mas um dos autores, Vinícius de Moraes (1913-1980), analisou, achou que o verso "peço perdão pela duração dessa temporada" era "branda demais" e aconselhou que substituísse por "peço perdão pela omissão um tanto forçada". Chico e Toquinho, os outros dois autores, concordaram, mas, ao gravar, a frase sugerida por Vinícius foi censurada e trocaram pela frase original.
Gravado em períodos entre o exílio de Chico na Itália e sua volta ao Brasil, "Construção" teve um grande sucesso comercial. Nas primeiras semanas após o lançamento, chegou a vender mais de dez mil cópias por dia (!) o que fez a Philips contratar duas gravadoras concorrentes para prensá-los, além de obrigar o trabalho em turnos de 24 horas por dia durante quase dois meses. Até então, a gravadora nunca havia vendido tantos discos em tão pouco tempo - 140 mil cópias nas primeiras quatro semanas. Em outubro de 2007 o LP foi eleito em uma lista da versão brasileira da revista Rolling Stone como o terceiro melhor disco brasileiro de todos os tempos, ficando atrás de "Acabou Chorare" (Som Livre, 1972) dos Novos Baianos e "Tropicália ou Panis Et Circensis" (Discos Philips/Universal Music, 1968).


"Construção"
Chico Buarque
(P) 1971 Discos Philips/ Phonogram (hoje Universal Music Brasil)

01- Deus lhe pague
Escrita por Chico Buarque de Holanda

02- Cotidiano
Escrita por Chico Buarque de Holanda

03- Desalento
Escrita por Chico Buarque de Holanda e Vinícius de Moraes

04- Construção
Escrita por Chico Buarque de Holanda

05- Cordão
Escrita por Chico Buarque de Holanda

06- Olha Maria
Escrita por Chico Buarque de Holanda ,Tom Jobim e Vinícius de Moraes

07- Samba de Orly
Escrita por Chico Buarque de Holanda, Vinícius de Moraes e Toquinho

08- Valsinha
Escrita por Chico Buarque de Holanda e Vinícius de Moraes

09- Minha história (Gesù Bambino)
Escrita por Lucio Dalla e Paola Palotino
Versão de Chico Buarque de Holanda

10- Acalanto
Escrita por Chico Buarque de Holanda


Ficha Técnica

Direção de produção: Roberto Menescal
Direção de estúdio: Roberto Menescal
Técnicos de gravação: Toninho e Mazola
Estúdio: Phonogram
Direção musical: Antônio José Waghabi Filho "Magro" (MPB-4)
Foto: Carlos Leonam
Capa: Aldo Luiz

Participações especiais:
*MPB-4 (coro nas faixas 1, 3, 4, 7 e 9): Miltinho (Milton Lima dos Santos Filho), Magro (Antônio José Waghabi Filho), Aquiles (Aquiles Rique Reis) e Ruy Faria (Ruy Alexandre Faria).

*Tom Jobim - piano em "Olha Maria (Amparo)"

*Trio Mocotó (percussão em "¨Samba de Orly "):
Fritz Escovão, João Parahyba e Nereu Gargalo

*Toquinho - violão em ¨Samba de Orly"

Festa de Lançamento do "Clube do Samba" (Fantástico, 1979)

"Meninos da Mangueira" - Ataulpho Jr. e Diogo Nogueira no programa "Samba da Gamboa" na TV Brasil