Lá em outubro de 2020 eu fiz uma postagem aqui no meu blog sobre Timeout Rock Band, uma banda brasiliense de rock 'n' roll formada por autistas (clique aqui). Agora, no dia 16 de março, sábado, a banda se apresentou no programa Caldeirão com Mion da TV Globo para estrear o quadro "Caldeirão Informa: Arte Transforma". O grupo idealizado por psicólogos já vem com uma novidade: a tecladista Nina, a mais nova integrante.
O projeto da Timeout foi criado em 2017 por João Guilherme Videira, Carolina Passos e Paolo Rietveld, psicólogos do Instituto Ninar e reúne jovens entre 19 e 27 anos: os bateristas Henrique Barnes e João Vitor; a tecladista Nina; o guitarrista Thiago Carneiro e os vocalistas Ivan Madeira e João Gabriel (GShow).
Timeout Rock Band deu um show de talento tocando clássicos do gênero "London Calling" de (Joe Strummer e Mick Jones, 1979) da banda inglesa The Clash e "Ainda É Cedo" (de Renato Russo, Ico Ouro-Preto, Marcelo Bonfá e Dado Villa-Lobos, 1985) do Legião Urbana. Infelizmente não dá pra incorporar o vídeo aqui, mas pode assistir-lhe gratuitamente no site do GShow clicando no link abaixo:
"Ieshuá" é a música que abre o disco "Um Certo Galileu 2" do Padre Zezinho. O álbum lançado em 1981 é a segunda sequência da obra de 1975. A letra é bem atemporal e retrata como seria se Jesus Cristo estivesse conosco nos dias de hoje (no Brasil, então...). Não diferenciaria em nada da época da vida terrena do Nosso Senhor. Uma ótima canção para refletir nesta Sexta-Feira Santa.
A música tem as participações do cantor Astúlio Nunes e coro.
Catalogaram Jesus Catalogaram Jesus Por não andar na direita, na esquerda Ou no centro ou na situação Por não falar como essênios Zelota ou governo nem oposição E por não ser fariseu E por não ser saduceu Classificaram Jesus Como herege blasfemo Inimigo e perigo mortal pra nação
Desafiaram Jesus
Desafiaram Jesus Porque fazia milagres em dias errados E sem permissão Por aliar-se aos pequenos Sem ser alinhado e nem ter posição E por não ser doutor Por falar tanto de amor Classificaram Jesus
Como um alienado Impostor renegado sem classe ou padrão
E condenaram Jesus
E condenaram Jesus Porque falava de um reino De fraternidade, igualdade, união Porque trazia consigo Perigo de um golpe ou da insurreição E por dizer que chegou Porque foi Deus quem mandou Assassinaram Jesus numa cruz Entre preces e salmos e cantos De libertação
Ieshuá, Ieshuá
Acompanharam Jesus Acompanharam Jesus Pobres e cegos e surdos e coxos e mudos E até oficiais Gente sofrida e oprimida Por gente que tinha ou mandava demais E por ser filho de Deus E pelo reino dos céus Testemunharam Jesus E com ele enfrentaram As dores da cruz, mas acharam a paz
A advogada Woo Young-woo (Park Eun-bin). "Meu nome é Woo Young-woo. Não importa a ordem que for lido. Como catraca, caneca, casaca, cômico, careca, Woo Young-woo."
Na outra postagem que eu fiz eu falei sobre a série "Tudo Bem Não Ser Normal" ("It's Okay Not To Be Okay" nos Estados Unidos / "Saikojiman Gwaenchana" /"사이코지만 괜찮아"/ "Insano, Mas Tudo Bem", tvN / Studio Dragon / Netflix, 2020) (clique aqui). Agora existe outro k-drama que eu adorei e também aborda o autismo, "Uma Advogada Extraordinária" ("Extraordinary Attorney Woo" nos Estados Unidos / "이상한 변호사 우영우", 2022) em razão da sua protagonista Woo Young-woo (Park Eun-bin) que tem o transtorno em questão. Outra minha personagem preferida dessa série é a bem-humorada (e vista como esquisitona) Dong Geu-ra-mi (Joo Hyun-young), a única amiga da Young-woo que nos tempos do colégio a defendia do bullying dos colegas em razão da sua deficiência oculta e daí que começou a amizade entre as duas. Dos dois k-dramas, o que mais me cativou mesmo foi "Uma Advogada Extraordinária".
Elenco principal da série "Uma Advogada Extraordinária"
SINOPSE
A série conta a história de Woo Young-woo (Park Eun-bin / 박은빈 / dublada por Taís Feijó), uma advogada com transtorno do espectro do autismo que é criada por seu pai solteiro, Woo Gwang-ho (Jeon Bae-soo/전배수/ dublado por Alexandre Maguolo). Ela cresce com sua única amiga na escola, Dong Geu-ra-mi (Joo Hyun-young/주현영/dublada por Fernanda Baronne), uma garota excêntrica que a protege dos provocadores da escola. Ela se forma como a melhor de sua turma da faculdade de direito na Universidade Nacional de Seul. Por causa de sua condição, ninguém vai contratá-la. No entanto, através de uma conexão de seu pai, ela consegue seu primeiro emprego em Hanbada, um grande escritório de advocacia de Seul. A inteligência e a memória fotográfica da advogada Woo a ajudam a se tornar uma excelente advogada, pois ela é capaz de lembrar as leis e quase tudo que lê, vê ou ouve perfeitamente. Sendo diferente de pessoas mais próximas, os neurotípicos, sua maneira de comunicação é inicialmente vista pela maioria como estranha e sua forte inteligência emocional permanece desconhecida. Mas à medida que a série avança, muitos que ela conhece, como seu advogado supervisor Jung Myung-seok (Kang Ki-young/강기영/dublado por Alexandre Drummond), sua colega de Faculdade de Direito Choi Su-yeon (Ha Yoon-kyung/ 하윤경/dublada por Hannah Buttel) e o funcionário de apoio jurídico Lee Jun-ho (Kang Tae-oh/강태오/dublado por Eduardo Drummond), este que por fim se apaixona pela Young-woo, ajustem-se a ela enquanto ela aprende seu ofício como advogada novata. Mas ela também encontra pessoas que têm preconceito contra ela e outras pessoas com deficiência. Muitos dos casos legais da série envolvem questões jurídicas bem equilibradas e, às vezes, questões éticas difíceis. A abordagem da advogada Woo é muitas vezes única e ajuda a resolver casos de maneiras inesperadas. Um enredo sobre os pais de Young-woo percorre a série e envolve a rivalidade entre dois grandes escritórios de advocacia, ambos presididos pelas advogadas Han Seon-young (Baek Ji-won/백지원/dublada por Rebeca Joia), CEO da Hanbada, e Tae Soo-mi (Jin Kyung/진경/dublada por Isabela Quadros), CEO da Taesan, bem como seu colega ciumento Kwon Min-woo (Joo Jong-hyuk/주종혁/dublado por Felipe Drummond). Porém, com o desenrolar da história, descobre-se que Tae Soo-Mi é mãe de Woo Young-woo. Outro tema que percorre a série é o hiperfoco. O forte interesse de Young-woo é por baleias e outros mamíferos marinhos. Sua tendência a analisar situações que enfrenta em sua vida profissional e privada com as vidas e características de baleias e golfinhos muitas vezes surpreende e confunde as pessoas que a cercam. Seus momentos muitas vezes se coincidem com fantasiar sobre essas criaturas.
Woo Young-woo (Park Eun-bin), seu abafador auricular e grande interesse por baleias
Momento da série que me marcou
O episódio 3. Acredito até que muitos de nós autistas ou pais de autistas que viram a série têm um pensamento unânime. Woo Young-woo é escalada para analisar o caso de um rapaz também autista, acusado injustamente de matar o irmão estudante universitário que era bem admirado por todos pela sua dedicação, mas que na verdade foi um suicídio. Ou seja, só porque Young-woo é autista, seus colegas de escritório de advocacia achavam que ela tinha mais agilidade pra lidar com outro autista. No fim, foi uma pura ilusão da parte deles, já que o réu é autista nível 3 de suporte, enquanto a advogada provavelmente é nível 2. Ela própria disse que nunca conheceu ninguém com autismo "severo", o que enfatiza aquela frase clássica, porém super importante: "não é porque você conhece um autista significa que você conhece o autismo, você apenas conhece uma pessoa autista". Young-woo não só não entende muito bem o rapaz, como o comportamento direto e assertivo dela lhe provoca uma crise. Sem falar que os pais do acusado malham a Young-woo simplesmente por se sentirem desconfortáveis com a advogada por ela ter um modelo de autismo tão diferente do de seu filho. O mais chocante é que, quando saiu a reportagem da morte do estudante no portal de notícias online, Young-woo se incomoda com o tribunal de internet nos comentários de gente desinformada malhando o réu e o atacando pela sua deficiência com frases do tipo "é uma perda nacional um estudante de medicina morrer e um autista viver" e "eu tenho um vizinho autista, é assustador", um caso de capacitismo. E o pior é que cada comentário desse recebe um número astronômico de aprovações (curtidas ou likes). Com todos esses fatos acumulados, Young-woo se sente pressionada e com vontade de desistir de viver e é na tentativa de autoextermínio da qual a advogada em seguida é salva pelo seu crush Lee Jun-ho que descobre como o estudante suicidou-se. Quem explica melhor é o professor e profissional em psicologia Lucelmo Lacerda, diagnosticado com autismo nível 1 do canal Luna ABA do YouTube no vídeo abaixo.
Bônus: um momento fútil, porém bem-humorado que também me marcou da série foi no episódio 14 em que Dong Geu-ra-mi e seu patrão, o chef de cozinha e dono do pub Kim Min-shik (Im Sung-jae/임성재/dublado por Renan Vidal), massacram as músicas de sofrência sul-coreana numa casa de karaokê na Ilha de Jeju enquanto a coitada da Young-woo que é amiga da dupla se vê obrigada a aguentar as suas desafinações bizarras. Risos.
CONFIRMADO: De acordo com vários sites mais confiáveis, haverá a segunda temporada da série.
"Ninguém pode julgar o sentimento de outra pessoa"
Através de várias páginas de autistas ou sobre autismo no Instagram ouço falar da série sul-coreana "Tudo Bem Não Ser Normal" ("It's Okay Not To Be Okay" nos Estados Unidos / "Saikojiman Gwaenchana" /"사이코지만 괜찮아"/ "Insano, Mas Tudo Bem", tvN / Studio Dragon / Netflix, 2020) em razão de um dos personagens que tem transtorno do espectro autista. Vi o k-drama* por curiosidade e quero ver de novo assim que eu tiver mais tempo, já que ela aborda a saúde mental, o autismo e psicofobia (preconceito ou discriminação contra pessoas com transtorno ou deficiência mental). Em outras palavras, adorei.
*O "K" de k-drama surge da palavra korean (coreano, em inglês) e serve para marcar séries e novelas vindas da Coreia do Sul. Muitas vezes as produções coreanas são identificadas erroneamente como dorama que é derivado da palavra “drama” em japonês e se refere às produções televisivas japonesas.
O casal principal Moon Gang-tae (Kim Soo-hyun) e Ko Moon-young (Seo Yea-ji)
SINOPSE
Moon Gang-tae (Kim Soo-hyun / 김수현/ dublado por Fabrício Vila Verde) vive com seu irmão mais velho, Moon Sang-tae (Oh Jung-se /오정세 / dublado por Cafi Balloussier), que tem autismo e interesse por dinossauros (hiperfoco). Eles frequentemente se mudam de cidade em cidade desde que Sang-tae testemunhou o assassinato de sua mãe. Para sobreviverem financeiramente, Gang-Tae trabalha como cuidador em alas psiquiátricas em todos os lugares onde eles se instalam. Enquanto trabalhava em um hospital, ele conhece uma famosa escritora de livros infantis, Ko Moon-young (Seo Yea-ji / 서예지 / dublada por Rebeca Joia), de quem Sang-tae é fã, a que dizem ter transtorno de personalidade antissocial. Circunstâncias levam Gang-tae a trabalhar no Hospital Psiquiátrico OK na cidade de Seongjin, onde viveram quando eram jovens. Enquanto isso, Moon-young cria uma obsessão romântica por Gang-tae e o segue até Seongjin. Lá o trio (incluindo Sang-tae) lentamente começa a curar as feridas emocionais um do outro e a verdade por trás de seus passados entrelaçados, que os tem assombrado, também é revelada.
Neste mês de março, a Sessão da Tarde completa cinquenta anos. Sessão da Tarde é uma sessão de filmes exibida pela TV Globo que estreou em 4 de março de 1974, substituindo a extinta Sessão das Duas. O primeiro filme a ser exibido foi "A Incrível Suzana" ("The Major and the Minor", Paramount Pictures, 1942), uma comédia romântica em preto e branco protagonizada por Ginger Rogers (1911-1995) e Ray Milland (1907-1986). Os meus preferidos da Sessão da Tarde são "De Repente 30" ("13 Going on 30", Columbia Pictures, 2004), "High School Musical" (Walt Disney Pictures, 2006), "Matilda" (TriStar Pictures, 1996) e "As Patricinhas de Beverly Hills" ("Clueless", Paramount Pictures, 1995"). Porém o mais cativante para mim foi o filme "Tudo Que Quero" ("Please Stand By", Magnolia Pictures - EUA/ Imagem Filmes - Brasil, 2018 / em Portugal: "Um Novo Caminho") protagonizado pela Dakota Fanning no papel de uma jovem autista que é fã de "Jornada Nas Estrelas"/"Star Trek". "Tudo Que Quero" foi exibido na Sessão da Tarde nos dias 24 de novembro de 2020, 18 de junho de 2021, o dia do orgulho autista, e 15 de setembro de 2022. O longa-metragem está disponível apenas em versão legendada no YouTube Filmes, Apple TV, Amazon Prime Video e Google Play.
SINOPSE
Wendy (Dakota Fanning / dublada para a exibição na Globo por Giulia de Brito) é uma jovem com autismo que escreve histórias de fantasia em seu tempo livre e decide terminar um roteiro quando descobre uma competição de escrita da versão cinematográfica de "Jornada Nas Estrelas"/"Star Trek", série da qual ela é fã, promovida pela Paramount Pictures que tem o prazo de entrega para os interessados até o dia 16 de fevereiro, numa terça-feira, às 5 da tarde. Agora, o problema é conseguir entregar o roteiro, já que o dia em que descobriu a existência do concurso é domingo, 14, quando não há expediente nos Correios, e segunda-feira, dia 15, é feriado nacional do Dia dos Presidentes*, e é aí que Wendy decide corajosamente fugir da casa de repouso onde está hospedada, em Oakland, para entregar seu roteiro de "Star Trek" diretamente para a Paramount Pictures em Los Angeles. Com o Pete, seu pequeno cão que estava fora dos planos, mas foi atrás de sua dona assim que ela estava a caminho, e apenas alguns dólares no bolso, Wendy embarca em uma aventura repleta de desafios e surpresas, tudo isso em busca de seu sonho.
*O Dia dos Presidentes (Presidents' Day) é um feriado federal celebrado nos Estados Unidos na terceira segunda-feira de fevereiro. Ele homenageia George Washington, o primeiro presidente dos Estados Unidos, que nasceu em 22 de fevereiro de 1732 (e morreu em 14 de dezembro de 1799). Dependendo do ano, a celebração pode ocorrer entre 15 e 21 de fevereiro. Além de Washington, o feriado também reconhece todos os que já ocuparam o cargo presidencial, não se limitando apenas ao primeiro presidente (Nomad Global).
Encerrando a postagem com a música dos créditos finais do filme, "Open Your Heart" (de Becky Stark, Jeff Rosenberg, Ron Rege Jr e Steve Gregoropoulous) gravada pela banda americana Lavender Diamond para o seu álbum "Imagine Our Love" lançado em 2007 pela gravadora independente Matador Records. O videoclipe abaixo foi dirigido por ninguém menos que a cantora e compositora australiana Sia, que foi diagnosticada com autismo de nível 1 de suporte no ano passado, aos 47 anos.