A novela protagonizada por Fábio Jr. foi considerada o maior fiasco da história. Segundo os rumores, a Rede Globo apagou todos os seus capítulos!
Os jovens Stepan Nercessian, Myrian Rios e Fábio Jr. (fotos acima: site Teledramaturgia)
Como diria o criador do site Teledramaturgia e crítico Nilson Xavier (tão catarinense quanto eu!): "essa é para quem acha que no passado só teve 'novela boa'!". Ou seja, é muito comum encontrar em espaço pra comentários de internautas em sites opiniões errôneas de que toda a novela antiga é melhor que as recentes ao reclamarem dos desgastes e da falta de criatividade nestas, entre outras coisas.
Em tempos em que não existiam outras opções de lazer como internet e TV por assinatura, assistir às novelas realmente era um hobby que caía no gosto do público, mas nem todas eram boas e/ou bem sucedidas. Algumas entraram para a lista das novelas "esquecíveis" e seus trechos raramente são exibidos no Vídeo Show, no caso dos folhetins da TV Globo. Um dos exemplos é a novela "O Amor É Nosso", escrita pelo psiquiatra Roberto Freire e por Wilson Aguiar Filho e exibida a partir do dia 27 de abril de 1981 às 19 horas. Segundo a reportagem de Thell de Castro para o site "Notícias da TV" do portal UOL , "O Amor É Nosso" que faz 35 anos é considerada o maior fiasco da história.
Ambientada no Rio de Janeiro, a novela conta a história de Pedro (Fábio Jr.), um jovem cantor cheio de sonhos de sucesso e reconhecimento artístico. Pedro foge de casa dos pais assim que descobriu que sua namorada Selma (Zaira Zambelli) se apaixona pelo seu irmão Cláudio (Ney Sant'Anna) por este ter mais possibilidades de sucesso profissional que ele. Morador de rua, Pedro é acolhido pelos jovens irmãos Bruno (Buza Ferraz), compositor, e Nina (Myrian Rios), uma moça meiga e romântica, para viver com eles em uma comunidade de estudantes. Pedro e Bruno iniciam uma parceria profissional. Nina acaba se apaixonando pelo cantor, mas fica dividida entre ele e o bondoso seminarista Chico (Stepan Nercessian)
Um personagem importante da trama é o revolucionário Padre Leonardo (Stênio Garcia), religioso disposto a ajudar os jovens da história e dedicado a promover atividades que os atraíam, transmitindo sua enorme paixão pelo ser humano através da fé. Vive com Chico, seu afilhado e tem a vida movimentada com o desaparecimento de Cíntia (Simone Carvalho), jovem universitária, sensível mas cheia de dúvidas que tem no padre um grande amigo. Seu sumiço surpreende a todos e o seu pai Camargo (Ivan de Albuquerque) e sua irmã Sandra (Kátia D'Ângelo) acusam o Padre Leonardo, trazendo um viés policial para a trama.
Pedro (Fábio Jr.) e Padre Leonardo (Stênio Garcia)
A jovem Cíntia vivida pela Simone Carvalho, na época casada com o cineasta Cláudio Cunha (1946-2015) e símbolo sexual dos filmes eróticos do cinema nacional. (fotos acima: Memória Globo)
As propostas de "O Amor É Nosso" eram abordar as reais aspirações e dúvidas do jovem da década de 1980 e trazer à tona novos conceitos sobre a Igreja Católica, por meio do padre Leonardo, vivido por Stênio Garcia. O personagem, segundo a Revista Amiga de 6 de maio de 1981, foi inspirado no Padre Max (Maximino Barbosa de Sousa, 1943-1976) que foi um padre com afiliações politicas à UDP (União Democrática Popular) assassinado pelo movimento fascista MDLP, Movimento Democrático de Libertação de Portugal.
Porém, mesmo contando com grandes nomes como Tônia Carrero, Jorge Dória, Walmor Chagas e Milton Moraes, um emaranhado de histórias e excesso de personagens sem função_fato que se repetiu 31 anos depois, na novela "Salve Jorge"_ confundiu o telespectador, afastando-o da novela e tornando esta uma das obras mais problemáticas da TV Globo.
A partir da metade da novela, em situação de emergência, os autores Roberto Freire e Wilson Aguiar Filho foram substituídos pelo Walther Negrão.
Na época, chegaram a pensar em usar a mesma técnica de Janete Clair em "Anastácia, a Mulher Sem Destino" (Rede Globo, 1967): uma tragédia levaria boa parte do elenco para reduzir o número de atores e renovar a história. Idealizaram um acidente de ônibus, mas Walther achou que não seria necessário o chamado "ônibus da morte". "Como peguei a novela exatamente na metade, achei melhor encerrar algumas tramas propostas pelos outros autores para poder desenvolver a minha. Assim, alguns personagens ligados ao lado policial da novela vão desaparecer, porque pretendo destacar o lado romântico da história. Mas não haverá o ônibus da morte", disse Walther, em entrevista à Folha de S.Paulo de 30 de julho de 1981.
Como se não bastasse, "O Amor É Nosso" ainda enfrentou problemas com a Censura do regime militar vigente no país naquela época. Em depoimento, o diretor Jorge Fernando conta que os diretores se reuniam e montavam um capítulo para os censores. As cenas que não ficavam prontas eram gravadas de improviso, apenas para constarem no capítulo e terem o conteúdo aprovado pela Censura Federal.
Na tentativa de recuperar a audiência, houve várias participações de artistas que eram os maiores destaques da época. O garoto Fernando Ramos da Silva (1967-1987), que no ano anterior protagonizou o filme "Pixote - A Lei do Mais Fraco" do diretor Hector Babenco, esteve no elenco como Pingo, mas a TV Globo rompeu seu contrato porque ele não conseguia decorar suas falas, já que ele era semi-analfabeto. A eterna Rainha do Rádio Marlene (1922-2014) viveu Maíra, a cantora decadente e cheia de delírios de grandeza que pretende retomar sua carreira, mas vê todas as portas se fecharem devido à sua idade. Contudo, os fãs da estrela da Rádio Nacional se revoltaram e acharam inadmissível qualquer alusão entre a personagem e a própria intérprete. Até o rei Roberto Carlos, no auge do sucesso e da preferência na música nacional e então casado com a Myrian Rios que vivia a Nina, participou da novela fazendo o papel dele mesmo. O cantor entrou na história ensinando Pedro (Fábio Jr.) a cantar. A novela também contou com participações dos ex-jovem-guardistas Ronnie Von e Vanusa.
Fracasso
O crítico Artur da Távola (1936-2008) comentou em sua coluna no jornal O Globo de 25 de outubro de 1981, um dia após a reapresentação do último capítulo da trama: "Muito difícil fazer um balanço crítico de 'O Amor É Nosso'. Diante de tantas alterações, impossível analisar a obra. Não há obra. A novela acabou descosida, diferente, desossada, embora de certa forma divertida. Mas morrerá sem deixar saudades (...) A novela ficará como essas pessoas que morrem jovens: partem cheias de promessas e esperanças do que poderiam ter sido, se tivessem vindo a ser". Uma pena, mesmo.
O resultado foi tão frustrante que, segundo um funcionário do Centro de Documentação da Rede Globo (CEDOC) em declaração à imprensa, no início do ano 2000 a emissora apagou todas as fitas de "O Amor É Nosso". Da novela, restaram algumas chamadas de estreia, a abertura com o Fábio Jr. em estúdio "gravando" o que se tornaria um de seus grandes sucessos, "Eu Me Rendo" (de Sérgio Sá) e o videoclipe do mesmo exibido no Fantástico no dia anterior do primeiro capítulo. Porém, ainda não há provas de que a novela realmente foi descartada dos arquivos da emissora.
Trilha Sonora
Se a novela "O Amor É Nosso" não fez sucesso, com a trilha sonora foi um pouco diferente. Além do empolgante tema de abertura que até hoje é indispensável nos shows de Fábio Jr., também contava com "Bem Simples" (de Ricardo Feghali) com o grupo Roupa Nova, "Bem-Te-Vi" (de Dalto e Cláudio Ferreira) com Renato Terra, "Abre Coração" (de Marcelo e Jim Capaldi) com Marcelo, "Jogada Pelo Mundo" (de Ary Barroso) com a Gal Costa e "Rochedo" (de Zé do Maranhão e Noca da Portela) com Beth Carvalho. Na trilha internacional, a música de maior destaque foi a country "Sunshine On My Shoulders" (de John Denver, Dick Kniss e Mike Taylor) de John Denver (1943-1997) gravada em 1971.
Fontes:
Wikipédia
Teledramaturgia
https://www.youtube.com/watch?v=CYnH9IIM0rk