Janis Joplin em Copacabana, Rio de Janeiro, fevereiro de 1970.
Eu confesso que nunca fui de gostar de rock e blues psicodélicos, mas sempre me interessei em músicas autobiográficas, como as de Lupicínio Rodrigues, Roberto Carlos, Maysa, Renato Russo, Cazuza e das cantoras britânicas Amy Winehouse e Adele. E aí, no último dezembro, fui comprar a revista Rolling Stone Brasil com a intérprete de "Someone Like You" na capa. Ao ler esta matéria, que foi o objetivo de eu ter comprado a revista além da reportagem sobre o rei do baião Luiz Gonzaga, havia nela uma lista de cinco discos "que abriram o caminho para a explosão da Adele", entre eles, "Back To Black" (Universal Music, 2006) da Amy Winehouse e... Pearl (Discos CBS, hoje Sony Music, 1971), da aloprada Janis Joplin (Janis Lyn Joplin, Port Arthur, Texas, 19 de Janeiro de 1943 — Los Angeles, 4 de Outubro de 1970), apesar de que apenas duas faixas são de sua autoria: "Move Over" e "Mercedes Benz" , esta em parceria com Bob Neuwirth e Michael McClure. Algumas faixas do último e considerado melhor álbum da carreira de Janis, segundo a Rolling Stone brasileira, revelam sua alma profunda e sofrida, como o clássico "Cry Baby" e a profética "Get It While You Can". Só recentemente, neste mês de agosto de 2013, ouvi no YouTube o álbum completo (incluindo as faixas bônus incluídas no CD relançado) de "Pearl" e, adivinhe: achei bacana! Antes disso eu, amante de biografias de cantores famosos, já tinha visto o documentário no YouTube "As Últimas Horas de Janis Joplin" exibida originalmente pela GNT. Um documentário que, como diz a roqueira e fã Pitty que foi a narradora, traz a gente pra dentro da cena e faz a gente se sentir como uma mosquinha. É uma pena que a perdemos tragicamente para as drogas,o mesmo problema que Amy, Whitney Houston e Elis Regina tiveram e que, assim como a Janis, eram as divas de talento indescritível.
Sua longa extensão vocal, sua presença de palco extravagante, os temas de dor e perda e a sua gargalhada contagiante eram suas marcas registradas e serão lembrados para sempre. Antes de Janis Joplin, as cantoras brancas americanas eram meiguinhas e comportadas, até que, no Festival Internacional de Música Pop de Monterey em 1967, ao interpretar "Ball and Chain" da blueswoman Big Mama Thornton, Janis, influenciada por outras grandes divas da black music como Etta James, Aretha Franklin e Billie Holiday, quebrou o tabu de que mulheres brancas não cantavam blues de músicos negros e arrepiou a platéia usando seus agudos impressionantes e sua interpretação frenética e desinibida. Repare no 3:28 do video abaixo a reação do público com a tal novidade. E, a partir daí, a apresentação fez com que Janis, em parceria com a banda Big Brother & The Holding Company, se tornasse uma estrela, sendo também considerada a rainha do rock and roll.
http://youtu.be/X1zFnyEe3nE
A vida conturbada de Janis Joplin
Janis Joplin ainda menina com a mãe (primeira foto acima) e como adolescente comportada e bem vestida (segunda foto acima).
Tudo indica que Janis Joplin tinha uma infância feliz e tranquila. Sua mãe queria que ela fosse uma garota popular, elegante e vaidosa e trabalhasse como professora, mas, na adolescência, seu corpo deixava de se desenvolver e sua pele apresentava problemas de acne, fazendo com que seus colegas a rejeitassem e que Janis ficasse arrasada. A exclusão fez com que Janis se rebelasse mais ainda:ela passou a se vestir de preto e xingar palavrões. Quanto mais ela se rebelava, mais os colegas a isolavam. Mas Janis conseguiu refúgio na companhia de outros poucos excluídos que eram contra o status quo, o sistema e as regras que prevaleciam na época.
Rebeldes, Janis e o restante da turma atravessavam ilicitamente a fronteira com o estado de Louisiana onde, entre outras aventuras, encontravam o fruto proibido: a black music. Na época, a discriminação racial nos Estados Unidos estava no auge. Janis era da turma a que mais curtia jazz e blues em casas noturnas. Em uma dessas noites, os colegas e a futura cantora foram detidos por baterem o carro.
Em 1962, a jovem deixou a cidade natal e foi cursar artes na universidade de Texas, na cidade de Austin. Lá, ela encontrou pessoas da contracultura como ela, em especial, músicos, e começou a cantar blues e folk com amigos. Do Texas, Janis mudou-se para San Fancisco e trabalhou como cantora folk em cafés e bares. A jovem intensificou o uso de drogas, começou a usar heroína e bebia muito. Apesar de gostar da carreira musical, Janis achava que usar drogas era mais importante do que cantar. Ela teve que voltar a Port Arthur para se recuperar.
Ao retornar a San Francisco, em 1966, Janis, influenciada no blues, conhece Big Brother & The Holding Company, a banda que a levaria ao sucesso. No final de 1968, ao sair da Big Brother por desentendimentos, Janis Joplin, já no auge da carreira e do sucesso, queria incluir instrumentos de sopros em suas músicas e formou o grupo Kozmic Blues Band que a acompanhou no histórico festival Woodstock em 1969 e gravou o álbum "I Got Dem Ol' Kozmic Blues Again Mama!" (Discos CBS, hoje Sony Music, 1969). Apesar de ser premiado como disco de ouro, dos arranjos sofisticados e das reeleituras dos clássicos "To Love Somebody" dos Bee Gees e "Little Girl Blue" da dupla Lorenz Hart e Richard Rodgers, o álbum não teve o mesmo sucesso que os dois anteriores da cantora com a Big Brother & The Holding Company. A levada soul da nova banda não agradava aos críticos e nem tampouco aos fãs. A partir daí, Janis, que até então era a queridinha da mídia, recebia severas críticas da imprensa e isso a fez com que ela lamentavelmente se deprimisse e se afundasse ainda mais nas drogas. A cantora desmanchou a banda Kozmic Blues.
Em 1970, para tentar se livrar do vício da heroína, Janis quis se tratar num lugar bem distante: Rio de Janeiro, Brasil. Mas, em vez disso, durante sua estada, Janis bebeu muito, fez topless na praia de Copacabana, cantou em um bordel, foi expulsa do hotel Copacabana Palace por nadar nua na piscina, teve um breve caso com o roqueiro carioca Serguei (este que, até hoje, orgulhoso, usa camisetas estampadas com a frase "eu comi a Janis Joplin") e, por pouco, não foi presa pelas suas atitudes na praia, consideradas "fora do comum". Como era época de carnaval, Janis tentou participar do desfile da escola de samba Estação Primeira de Mangueira, mas teve acesso negado por um segurança que desconfiou de seu traje hippie.
Em 1979 foi lançado o filme "A Rosa" ("The Rose", 20th Century Fox), baseado em sua vida e estrelado por Bette Midler. Em breve, será gravado a cinebiografia de Janis Joplin com a atriz Amy Adams no papel da cantora.