O filme de terror dramático para maiores de 18 anos que levou Demi Moore de volta ao estrelato
"Água da fonte cansei de beber
pra não envelhecer.,
"Sapato Velho", de Mú Carvalho, Cláudio Nucci e Paulinho Tapajós, 1981
De tanto ouvir pessoas falando do filme "A Substância" ("The Substance", MUBI / Working Title Films / A Good Story, 2024), decidi vê-lo. E o que eu achei? Quero assistir-lhe de novo e de novo. Não, você não leu errado. Sim, eu quero! Você deve estar pensando "quanta coragem, mia fia!". Risos. E eu vou dizer por quê.
São críticas em cima de críticas e reflexões em cima de reflexões. É um filme de terror estético dramático estrelado por Demi Moore em sua volta triunfal aos cinemas no papel da protagonista Elisabeth Sparkle, tanto que chegou a ganhar pela primeira vez os dois principais prêmios pelo filme: o Globo de Ouro de Melhor Atriz em Comédia ou Musical e o Screen Actors Guild Award (SAG) de Melhor Atriz Principal. Além destes, também recebeu o Critics Choice Award de Melhor Atriz e, pela primeira vez, uma indicação ao Oscar junto à atriz e cantora Cynthia Erivo pelo musical "Wicked" (Universal Pictures), à espanhola Karla Sofía Gascón pelo também musical "Emilia Pérez" (Why Not Productions / Page 114 / Pimienta Films / France 2 Cinéma / Saint Laurent Productions) e à brasileira Fernanda Torres por "Ainda Estou Aqui" (RT Features / VideoFilmes / Mact Productions / Arte France Cinéma / Conspiração Filmes / Globoplay), perdendo para a Mikey Madison por "Anora" (FilmNation Entertainment / Cre Film).
"Fica cada vez mais difícil se lembrar que você ainda merece existir. Que essa parte sua ainda vale alguma coisa e que você ainda importa."
Idoso e outro usuário da substância (Christian Erickson / dublado por Paulo Porto) na cena da lanchonete, para Elisabeth Sparkle
É um longa-metragem de horror com comoção. Até houve algumas cenas em que eu chorei de emoção, embora para muita gente parecem horripilantes, inclusive a do espelho antes de ela sair para um encontro que no fim não foi e a final, típica do filme "Carrie, A Estranha" ("Carrie", Metro-Goldwyn-Mayer e United Artists Pictures, 1976). (Clique aqui para ver a postagem sobre este filme).
Quando "A Substância" saiu, existia apenas a versão legendada e pensei "quando sairá a versão dublada com a Mônica Rossi, a voz brasileira da Demi Moore?". Até a própria Mônica que adora dublar a atriz americana também demonstrou em sua página do Instagram que estava torcendo para que isso acontecesse e, para a minha alegria e para a alegria da Mônica, aconteceu. Além de Demi Moore, Mônica Rossi é dubladora da Cameron Diaz, Madonna, Sharon Stone e Kim Basinger e também foi a voz da Priscila, a sheepdog do programa infantil "TV Colosso" (1993-1997) e da Cuca do "Sítio do Picapau Amarelo" (2001-2007), ambos na Rede Globo. Outro dublador supertalentoso que participa desse filme é o Hélio Ribeiro que dá a sua voz ao Dennis Quaid no papel do repugnante e machista Harvey*.
*O personagem de Dennis Quaid foi inspirado no cineasta homônimo Harvey Weinstein que se tornou em uma persona non grata por inúmeros crimes de abuso e assédio sexuais, inclusive contra estrelas de Hollywood, e hoje está apodrecendo na cadeia por isso. Pelo menos ele recebeu o que merece.
"Se ela tivesse os peitos do tamanho daquele narigão dela..."
"As pessoas sempre querem coisas novas. A renovação é inevitável e aos 50 isso para."
A principal moral de "A Substância" é que a busca incessante pela juventude e pelo padrão de beleza pode nos levar a perder nossa identidade e a nossa verdadeira essência, substituindo-nos por um clone que satisfaz as expectativas externas, em vez de nos dar prazer. O filme critica os padrões de beleza, o etarismo, a hipersexualização dos corpos e o machismo, mostrando como as mulheres são pressionadas a se manterem jovens e bonitas, e como essa pressão pode ter consequências. A própria Demi Moore, a protagonista do filme, disse em uma entrevista que punia a si mesma ao relembrar o seu sofrimento com padrões de beleza. É como se a atriz tivesse feito o papel dela mesma no filme (Adoro Cinema).
Além de Demi Moore e Dennis Quaid, no elenco também está a Margareth Qualley, filha de Andie MacDowell que viveu a Felicity em "Pobres Criaturas" ("Poor Things", Searchlight Pictures, 2023) e fez o papel da atriz, cantora e dançarina Ann Reinking (1949-2020) na minissérie biográfica "Fosse/Verdon" (20th Television / FX, 2019). Em "A Substância", Qualley faz o papel da Sue, a "versão melhor e mais jovem" da Elisabeth Sparkle.
Sinopse
No seu 50º aniversário, Elisabeth Sparkle (Demi Moore / dublada por Mônica Rossi), uma outrora celebridade e agora uma decadente estrela de cinema de Hollywood, é despedida sem cerimônias do programa de aeróbica que apresentava há anos pelo seu produtor Harvey (Dennis Quaid / dublado por Hélio Ribeiro) que lhe diz que sua idade avançada é o motivo da demissão. Enquanto dirigia para casa, Elisabeth se distrai com um outdoor de si mesma sendo retirado, resultando num grave acidente automobilístico. Num check-up no hospital, um jovem enfermeiro (Robin Gree / dublado por Ulisses Bezerra) com aparência surreal de Ken Humano oferece-lhe um pen-drive chamado "A Substância" que explica que há um soro de um laboratório clandestino que gera uma versão "mais jovem, mais bonita e mais perfeita" de si mesma. Após alguma hesitação, Elisabeth encomenda o soro e injeta o ativador de uso único, o que resulta no surgimento de uma versão muito mais jovem dela própria, através de uma fenda nas costas dela.
O soro estabelece uma relação simbiótica entre os dois corpos: Elisabeth tem de transferir a sua consciência entre os corpos a cada sete dias, com o corpo inativo permanecendo inconsciente. A outra versão também necessita de injeções diárias de "fluido estabilizador", extraído do corpo original através de uma punção lombar, para prevenir a deterioração. A outra versão que se identifica com nome de Sue (Margareth Qualley/ dublada por Samira Fernandes) faz um teste anunciado nos classificados de um jornal e é rapidamente contratada por Harvey para substituir Elisabeth. O novo programa televisivo de aeróbica da Sue com coreografias hipersexualizadas a leva para a fama, sendo eventualmente escolhida para apresentar o grande programa de Ano Novo da emissora. Como Sue, a atriz desfruta de uma vida confiante e hedonista, enquanto, vivendo como Elisabeth, se torna numa reclusa insegura.
O problema é que Sue extrapola com a sua matriz, extraindo seu fluído estabilizador um dia a mais do limite do tempo (sete dias) para se manter, violando a regra do uso da substância. E a medida de que a Sue extrai o fluido além do limite do tempo recomendado, os sinais de envelhecimento em Elisabeth se evolui bruscamente e o desequilíbrio acontece. É aí que Elisabeth com aparência do dobro da sua idade sente ódio de seu outro eu que está no auge da beleza e do sucesso midiático e faz de tudo para provocá-lo, gerando raiva na sua versão jovem e iniciando uma guerra contra si mesma. Afinal, como o próprio atendente do laboratório (Yann Bean/ dublado por Marco Antônio Abreu) diz: não existe uma e outra. "Vocês são uma só (na versão dublada, "você é singular"). Você não pode escapar do seu ser", ou seja, Elisabeth e Sue são a mesma pessoa.
Demi Moore irreconhecível. A própria atriz postou essa foto na sua página do Instagram mostrando os bastidores do filme e como sua personagem ficaria com o abuso de sucção de seu fluido estabilizador causado pela Sue, sua versão jovem. Tanto que o filme ganhou o Oscar de Melhor Maquiagem e Penteado. Um prêmio bem justo.
Trailer dublado
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