"O que é de verdade ninguém mais hoje liga: isso é coisa da antiga" - Ney Lopes e Wilson Moreira

Elsa (Frozen) ♥

sexta-feira, 7 de março de 2025

Os 30 anos do único álbum dos Mamonas Assassinas

 



Em uma tarde de 1995, meu pai tinha ido me buscar de carro de uma consulta semanal com uma psicóloga em razão das minhas dificuldades na sociedade, interação e estudos da escola _ e que só 29 anos depois que foi concluído que são alguns dos meus sinais de autismo com o qual fui diagnosticada. Durante a volta pra casa, o rádio do carro sintonizado na Atlântida FM filial Blumenau (102,7 MHz), a emissora existente até hoje destinada ao público jovem, estava tocando pela primeira vez uma música bem inusitada e doidona com uma introdução típica de música “brega” nordestina e um cantor fazendo uma interpretação caricata. Muita coisa na música havia causado estranheza em mim, entre elas o verso “me deixou legalzão” (o certo é “me deixa legalzão”). Na hora eu pensei: “que loucura é essa?”, já que eu que tinha 13 anos na época nunca tinha ouvido antes uma música que usava o termo “legalzão”, tampouco em “músicas do povão”. Do nada o “brega” evoluiu para o rock pesado com um coro fazendo uma resposta pra lá de estranha (é tudo estranho nessa música, hehehe): “oxente, ai ai ai” e é aí que o cantor revela sua frustração pelo amor não correspondido e, apesar disso, continua apaixonado pela declarada (“mas ela é ‘lindia’, ‘mucho’ mais do que ‘lindia’...). E em seguida, a cada break, ele dava à sua paquerada um apelido carinhoso como “docinho de coco” e “xuxuzinho”. Só dias mais tarde é que eu descobri do que se tratava: era a banda Mamonas Assassinas (eu entendia, a princípio, “Mamatas”. Risos) vinda de Guarulhos, cidade de São Paulo, com os integrantes de outras cidades paulistas (apenas o vocalista que era baiano de Irecê). E as canções dos caras dominavam as rádios, recreios e passeios de ônibus escolares. Até hoje eu tenho o CD deles que eu ganhei no Natal de 1995 e o pôster da revista Showbizz lançado uma semana após a morte da banda e comprado em uma banca já extinta de Balneário Camboriú no famoso Calçadão da Central.

Eu diria que o ano de 1995 foi o mais proveitoso da minha adolescência e uma das coisas que mais me marcou este ano, além do nosso primeiro aparelho de CD e primeiro passeio à Florianópolis, é o sucesso embora curto do grupo Mamonas Assassinas. A banda formada pelo vocalista bonitão Dinho (1971-1996), o guitarrista Bento Hinoto (1970-1996), o tecladista Júlio Rasec (1968-1996) e os irmãos Samuel (1973-1996), o baixista, e Sérgio Reoli (1969-1996), o baterista, fez na época um sucesso retumbante com suas composições cômicas e letras politicamente incorretas e recheada de palavrões que conciliavam pop rock com gêneros musicais populares, tais como sertanejo, heavy metal, pagode romântico, vira português e forró, e também com suas apresentações irreverentes e excêntricas. Tudo isso fez com que o grupo conquistasse todas as idades. Sim, todas as idades, inclusive crianças, o que seria inadmissível para os dias de hoje e motivo de moralismo ferrenho em época de redes sociais e aplicativos de mensagens (WhatsApp), como também, se existisse no Brasil, a capa do disco receberia aquele famoso selo em preto e branco de “Parental Advisory - Explicit Content” (“Aviso aos Pais: Conteúdo Explícito” em português) por inclusão de termos chulos nas músicas do álbum. Porém o guitarrista Bento Hinoto em uma entrevista resgatada para o documentário “Mamonas Para Sempre”* (Europa Filmes, 2011) havia dito o quanto o grupo tinha se surpreendido pelo fato de ter cativado o público infantil: “A gente não fez nada dirigido. [Tipo] 'vamos fazer essas músicas, porque a criançada vai gostar'. Porque se a gente pensasse nisso, não ia ter nenhum palavrão nas músicas, né? A gente não visou nenhum mercado, nenhuma faixa etária. A gente fez o que a gente ouve, o que a gente gosta, o que a gente sabe fazer”.


*Se você se frustrou com o resultado da cinebiografia “Mamonas Assassinas - O Filme” (Imagem Filmes, 2023), este documentário é uma boa dica.


Em seus pouco mais de oito meses de trajetória, eles gravaram um único álbum de estúdio, “Mamonas Assassinas” (EMI / hoje Universal Music, 1995), que vendeu mais de 3 milhões de cópias no Brasil, feito que lhes rendeu um certificado de disco de diamante comprovado pela Associação Brasileira dos Produtores de Discos (ABPD). O disco foi produzido pelo músico Rick Bonadio, que recebeu o apelido de Creuzebek. Duas músicas desse disco, "Vira-Vira" e "Pelados em Santos", foram incluídas entre as 10 canções mais ouvidas do país no ano de 1995. A banda esteve em atividade durante poucos meses, pois, em 2 de março 1996, devido a um acidente aéreo de comoção nacional, todos os membros da banda e outros tripulantes morreram quando a aeronave na qual voavam com destino a Guarulhos se chocou contra a Serra da Cantareira. O grupo foi um dos pioneiros do gênero de rock cômico no Brasil, e continua sendo celebrado e influenciando o cenário nacional da música mesmo muito tempo após seu fim. Atualmente, o seu único disco lançado no dia 23 de junho de 1995 _ou seja, daqui a pouco mais de 3 meses o álbum fará 30 anos_ prevalece como um dos 10 álbuns mais vendidos do Brasil em todos os tempos. O álbum foi recentemente relançado em LP e em CD em Fan Box pela Universal Music, sucessora da extinta EMI.


Capa da revista Veja (Editora Abril), com o Dinho na capa, lançada uma semana após a morte trágica de todos os integrantes do grupo.



Sobre o álbum


O logotipo da banda



Todo o material de divulgação do álbum foi feito de forma humorística. O logotipo da banda — que aparece no pingente do colar ilustrado na capa — é uma inversão da logomarca da empresa automobilística alemã Volkswagen, colocada de ponta-cabeça, com uma barra horizontal sobre o "V" para que, quando invertido, forme a letra "A". Veículos da marca são citados nas canções "Pelados em Santos" (uma Brasília) e "Lá Vem o Alemão" (uma Kombi), além de uma menção a um carro da empresa estadunidense Ford (um Escort), também em "Lá Vem o Alemão".


A capa 

Capa do álbum "Mamonas Assassinas" : pros dias de hoje seria pra lá de controversa.

A banda criou o conceito da capa do álbum, um desenho da autoria de Carlos Sá em que os músicos se penduravam em uma mulher nua expondo grandes seios (evocando o trocadilho no nome da banda, de "mamona" no sentido de "mama"), inspirada na Playboy de 1992 da modelo Mari Alexandre. Nessa capa da revista masculina estava a modelo com a manchete: “A musa country Mari - A nudez que enlouqueceu a dupla Leandro & Leonardo”, já que a catarinense de Rio do Sul namorava o Leandro (1961-1998) na época. 

À frente da ilustração principal, por exigência da gravadora, foram inseridos os rostos de Júlio Rasec, Samuel Reoli, Dinho, Sérgio Reoli e Bento Hinoto, nesta ordem. 

“Conheci os meninos durante um show deles em São Paulo. Fui parabenizá-los e Dinho me contou que a capa do CD tinha inspiração na minha ‘Playboy’ de 1992. Fiquei surpresa, porque até entrar no camarim, eu não sabia de absolutamente nada. Como tantas pessoas, achava que os seios fossem só uma brincadeira com o nome Mamonas. Foi uma honra, fiquei muito lisonjeada de ter sido musa inspiradora”, disse Mari Alexandre em uma entrevista. 


A modelo e atriz Mari Alexandre, a musa inspiradora da capa do álbum da banda.


Encarte

O encarte também contém humor e traz diversos agradecimentos inusitados feitos pelos músicos. Eles agradeceram a Rafael Ramos, músico da banda Baba Cósmica, que compôs "Sábado de Sol"; a Arnaldo Saccomani (1949-2020), produtor musical; a Santos Dumont (1873-1932), aeronauta que foi homenageado porque “inventou o avião, senão a gente ainda tava indo mixar o disco a pé”, a Charles Miller (1874-1953), futebolista, por "ter trazido o futebol ao Brasil"; aos personagens Chaves e Chapolin, ambos criados pelo ator mexicano Roberto Gómez Bolaños (1929-2014); aos animais de estimação de cada integrante, os cães Billy, Pluck, Mike, Proteus, Dick, Giully e Fluke; e a diversas outras pessoas. 

“E a DEUS, que foi quem mais nos ajudou e esteve sempre ao nosso lado.”, conclui seriamente a banda.


Gravação

O álbum foi gravado parcialmente em outubro de 1994 e concluído entre março e junho de 1995. Rick Bonadio, que conhecera a banda ainda como Utopia, produziu o álbum, que foi gravado em seu estúdio, também com o auxílio dos músicos Rodrigo Castanho e Junior Lane. Num dia de gravação, um sanfoneiro chamado Brezequeba, que gravava no mesmo ambiente, chamou a atenção do vocalista Dinho. Ao fazer uma piada onde deveria chamar Bonadio pelo nome daquele músico, o cantor confundiu-se e disse "Creuzebek". Este erro foi mantido na gravação e se tornou apelido do produtor. Já nos primeiros dias, a gravadora EMI exigiu um mínimo de dez canções para que o disco fosse lançado, mas só três haviam sido escritas. Em uma semana, os demais integrantes (em especial, Dinho e Júlio Rasec, que compuseram a maior parte) escreveram as outras doze faixas que entrariam no trabalho. Entretanto, "Não Peide Aqui Baby" (de Dinho), uma paródia da música "Twist and Shout" (de Phil Medley e Bert Russell, 1961) dos Beatles, foi desconsiderada por conta da grande quantidade de palavrões. A gravação aconteceu em São Paulo, no estúdio de Bonadio, e a mixagem no The Enterprise, em Los Angeles, nos Estados Unidos.

A seguir, uma dissecação faixa a faixa. Mamonas Assassinas, o melhor do "som risal", como diria o Dinho: "você ouve e dá risada".




“Mamonas Assassinas”
Mamonas Assassinas
℗ 1995 EMI Music, Fonográfica Industrial e Eletrônica Ltda. (hoje Universal Music Brasil)


1- “1406”
Escrita por Alecsander Alves Leite (Dinho) e Júlio César Barbosa (Júlio Rasec)

Ao contrário do que muitos pensavam, a pronúncia do título é “quatorze-zero-meia” e não “mil quatrocentos e seis”. O nome da música faz alusão ao número de telefone (011) 1406, pertencente aos infomerciais do Grupo Imagem, exibidos na extinta Rede Manchete nos anos 1990 que vendiam produtos ao estilo dos atuais comerciais da Polishop ou do canal de televendas Shoptime, da Globosat (clique aqui para ver a minha postagem sobre as propagandas loucas da Teleshop do Grupo Imagem). Na letra que faz crítica ao consumismo, foram citados produtos como as Facas Ginsu e Ambervision, vendidos pelo canal. Há também uma citação de um verso da canção "Laika Nóis Laika” (de Tukley e Marcelo Fasolo, 1975) da dupla Ponto & Vírgula que era “money que é good nóis não have”. Com relação à parte instrumental, a canção é caracterizada por um riff de baixo elétrico na introdução, que lembra bem as linhas de baixo utilizadas pelo baixista Flea do grupo Red Hot Chilli Peppers. Segundo o Rick Bonadio, o baixo foi gravado pelo guitarrista Bento Hinoto.


2- “Vira-Vira”
Escrita por Alecsander Alves Leite (Dinho) e Júlio César Barbosa (Júlio Rasec)

A canção é uma sátira ao gênero de folclore português Vira e às canções "A Casa da Mariquinha" (de Roberto Leal e Katia Maria,1975) e "Arrebita"(tema tradicional / adaptação de Roberto Leal, 1973) de Roberto Leal (1951-2019), apresentando a melodia desta última. Roberto Leal, posteriormente à morte dos membros da banda, gravou a canção "A Festa Ainda Pode Ser Bonita" (adaptação de Roberto Leal, 2010) em homenagem a eles.
Sua letra é inspirada em uma piada do humorista Costinha (1923-1995), presente no álbum “O Peru da Festa 2” (CID, 1982), que conta a história de um português que foi convidado para uma orgia (também conhecida como suruba). Por não saber do que se tratava, ele enviou sua esposa para ir em seu lugar. Ela volta uma semana depois, cheia de dores, sendo vítima da zombaria do português.


3- “Pelados em Santos”
Escrita por Alecsander Alves Leite (Dinho)

Segundo Dinho, esta foi a primeira música composta por ele, ainda em 1991, quando a banda ainda adotava o nome de Utopia e o repertório de rock sério. A canção que, a princípio, se chamaria "Mina (Minha Pitchulinha)" era mais lenta e com vocal brega semelhante ao de Reginaldo Rossi (1943-2013). Os produtores Rick Bonadio e Rodrigo Castanho a acharam extremamente engraçada e sugeriram misturar as letras com uma sonoridade mais rock. O grupo foi convencido a mudar de perfil e assumir o lado cômico de vez, passando a adotar o nome Mamonas Assassinas. "Mina (Minha Pitchulinha)" ficou mais pesada e passou a ser chamada "Pelados em Santos”. Nesta música, há uma clara referência à "Crocodile Rock" (de Elton John e Bernie Taupin, 1972) de Elton John.
Ela fora regravada em espanhol com o nome "Desnudos en Cancún" (versão de Dinho, Bento Hinoto, Rick Bonadio, Peta e Martin Cardoso).
A Brasília amarela modelo 1977 com rodas gaúchas pertencia ao avô de Mirella Zacanini, então namorada de Dinho. O carro original foi leiloado no palco do programa Domingo Legal. Apreendido pela Polícia Rodoviária por falta de documentação, a família de Dinho conseguiu recuperá-lo em 2015, em más condições. Um novo modelo foi modificado para incluir peças do original e passou a participar de eventos especializados em carros antigos e cultura pop, como o evento CCXP (Comic Con Experience) em 2023 em São Paulo.


4- “Chopis Centis”
Escrita por Alecsander Alves Leite (Dinho) e Júlio César Barbosa (Júlio Rasec)

Fazendo-se uso da chamada "variação linguística", tanto que tem sido utilizada como atividades em trabalhos escolares de português, a letra de “ Chopis Centis” descreve o passeio de um peão de obras com sua namorada no Shopping Center. Com relação à parte instrumental, os acordes e o arranjo são uma citação a "Should I Stay or Should I Go" (de Topper Headon, Mick Jones, Paul Simonon e Joe Strummer, 1982) da banda punk inglesa The Clash, embora a sequência de acordes não seja exatamente a mesma. O eu-lírico da canção é um sujeito que apresenta-se como uma pessoa de classe social baixa (“A minha felicidade, é um crediário nas Casas Bahia”) que exerce a profissão de pedreiro (“Quando eu estou no trabalho, não vejo a hora de descer dos andaime”) e com baixa escolaridade, já que utiliza-se de uma linguagem não culta (a gente fomos...). Lá ele faz um lanche com "uns bicho estranho com tal de gergelim", uma clara referência ao Big Mac, o mais famoso sanduíche da rede de fast food Mac Donald's ("dois hambúrgueres, alface, queijo, molho especial, cebola, picles num pão com gergelim"), mas, apesar de ter gostado, continua preferindo o humilde aipim. Em 2014, a música “Chopis Centis” apareceu nos trending topics (um dos assuntos mais comentados) no Twitter (hoje X) em razão da polêmica dos rolezinhos de jovens nos shoppings de São Paulo. Essa é uma das minhas preferidas da banda de Guarulhos.


5- “Jumento Celestino”
Escrita por Alecsander Alves Leite (Dinho) e Alberto Hinoto (Bento Hinoto)

No início da canção, há uma referência à música "Rock do Jegue (de Quem é Esse Jegue)" (de Célio Roberto e Bráulio de Castro, 1979), de Genival Lacerda (1931-2021). A canção também conta com acordeão, tocado por Cezar do Acordeão, e triângulo tocado por Rick Bonadio, o Creuzebek. A música, apesar do tom humorístico, fala da dificuldade de adaptação dos imigrantes nordestinos, a xenofobia sofrida, a saudade de casa e a ilusão do “sonho paulista". Até o próprio Beto Hinoto, sobrinho de Bento Hinoto e guitarrista da banda Mamonas Assassinas - O Legado, confirmou em uma entrevista que a letra é triste. Mais uma canção preferida minha da banda, pois me faz lembrar a música pop rock italiana “Ciao, Amore, Ciao” (1966) de Luigi Tenco (1938-1967), só que sem palavrões e brincadeiras, claro (clique aqui para ver a postagem sobre a música).


6- “Sabão Crá-Crá” (“The Mad Ku-Ku”)

"Sabão Crá-Crá" é uma música de autoria desconhecida que tornou-se famosa ao ser lançada pela banda. Além de "Sábado de Sol", é uma das duas únicas músicas gravadas por eles no álbum de 1995 que não são de autoria do grupo. Conforme relatado pelo vocalista Dinho, certa vez Bento Hinoto, que a conhecia do folclore escolar urbano, cantou essa canção num ensaio, e o resto da banda gostou. Como eles não encontraram registro dela, ela foi creditada no álbum como "autor desconhecido". Segundo consta, porém, trata-se de uma paródia em português de uma antiga canção chamada “The Mad Ku-Ku” (19??), composta pelo cineasta e diretor musical norte-americano Marvin Hatley (1905-1986) para a trilha sonora de uma das obras estreladas pela famosa dupla de comediantes Oliver Hardy (1892-1957) e Stan Laurel (1890-1965), conhecidos no Brasil como O Gordo e o Magro. Por conta disso, quando o álbum “Atenção, Creuzebek: a Baixaria Continua!” (EMI/ hoje Universal Music, 1998) foi lançado, a canção foi intitulada "Sabão Crá Crá (The Mad Ku-Ku)".


7- “Uma Arlinda Mulher”
Escrita por Alecsander Alves Leite (Dinho), Júlio César Barbosa (Júlio Rasec) e Alberto Hinoto (Bento Hinoto)

Paródia da música romântica e da linguagem rebuscada de cantores como Belchior (1946-2017), quem o tecladista Júlio Rasec imita no segundo refrão, o que daria origem também à vinheta "Belchi" (de Dinho e Júlio Rasec, raridade resgatada para o álbum “Atenção, Creuzebek: a Baixaria Continua!”). Seu título refere-se ao filme “Uma Linda Mulher” (“Pretty Woman”, Touchstone Pictures, 1990), estrelado por Julia Roberts. Quanto à estrutura musical, faz-se forte alusão à canção "Fake Plastic Trees" (de Colin Greenwood, Ed O'Brien, Jonny Greenwood, Phil Selway e Thom Yorke 1995) do Radiohead, além de haver referência à chamada da guitarra distorcida de "Creep" (de Colin Greenwood, Ed O'Brien, Jonny Greenwood, Phil Selway e Thom Yorke, 1993), também do Radiohead, antes do refrão. A página Mamonas Nostalgia (@mamonasnostalgia) no Tik Tok diz que, a respeito do verso “Você foi agora a coisa mais importante que já me aconteceu neste momento em toda a minha vida”, em seguida, ainda no refrão, os compositores explicam essa frase dizendo: “Um paradoxo do pretérito imperfeito complexo com a Teoria da Relatividade”. Caso não tenha entendido nada, a Teoria da Relatividade criada pelo físico alemão Albert Einstein (1879-1955) aceita tanto o evento passado (“você foi” / “já me aconteceu” ) quanto o evento presente (“agora” / “neste momento”). A parte mais engraçada da música é a final em que Dinho brinca com o fade-out aplicado pelo Rick Bonadio, o Creuzebeck: “Logo agora que você estava quase entendendo o que eu estou falando / A canção está acabando e o Creuzebeck está abaixando ali o volume / E você não entende nada mesmo porque quando você estiver em sua casa nesse momento a música vai tá baixinha…”
"Olha, eu sempre achei a música dos Mamonas muito alegre, muito livre, muito solta e naturalmente incensurável, música de adolescente. E durante muito tempo no Brasil valeu como válvula de escape para esse tipo de repressão, a palavra que sempre houve entre nós e que eles souberam tão bem dramatizar, souberam tão bem colocar em cena no palco, com vigor, com energia, com juventude, com alegria. Então, me senti muito, muito feliz com a lembrança que eles tiveram em parodiar a minha voz e, enfim, um estilo todo de composição", disse o próprio Belchior em uma entrevista antes de uma apresentação no interior de São Paulo, aparentemente no mesmo ano de 1995.


8- “Cabeça de Bagre II”
Escrita por Alecsander Alves Leite (Dinho), Júlio César Barbosa (Júlio Rasec), Alberto Hinoto (Bento Hinoto), Sérgio Reis de Oliveira (Sérgio Reoli) e Samuel Reis de Oliveira (Samuel Reoli)
Músicas incidentais:
a) “Baby Elephant Walk” (de Henri Mancini, 1961)
b) “Woody Woodpecker Song” (“Tema do Pica-Pau”) (de George Tibbles e Ramey Idriss, 1947)

É baseada na experiência do vocalista Dinho na quinta série primária. A letra, a forma falada de cantar e os vocais repetidos no fim de algumas palavras, além do título da canção, é uma paródia de "Cabeça Dinossauro" (de Paulo Miklos, Branco Mello e Arnaldo Antunes, 1986) dos Titãs. Já na parte instrumental, um dos solos de guitarra é uma referência à risada do personagem Pica-Pau e um dos riffs principais é "Baby Elephant Walk", trilha infantil composta pelo músico americano Henry Mancini (1924-1994), que nos tempos da Jovem Guarda ganhou versão brasileira chamada "O Passo do Elefantinho" (versão de Ruth Blanco, 1963) popularizado através do Trio Esperança. A canção também faz um trocadilho com o termo “tetracampeão”, uma referência à vitória da Seleção Brasileira de Futebol na copa do ano anterior, em 1994, modificando-o para “tretacampeão”, ou seja, falando que o Brasil é campeão também em tretas, no sentido de falsidade ou trapaças. Sem falar que, desde o começo, eu “delirei” com o riff do guitarrista Bento Hinoto na introdução. Uma das faixas mais inteligentes dos Mamonas.


9- “Mundo Animal”
Escrita por Alecsander Alves Leite (Dinho)

A letra trata das situações e características cômicas que alguns animais podem trazer. A canção começa com o cantor Dinho chamando o Creuzebeck, apelido de Rick Bonadio, e, em seguida, entra um riff de guitarra bastante característico do hard rock, porém no decorrer da canção ela assume uma levada mais pop. Além de Dinho imitar o jeito do cantor brega Falcão, na parte final da canção é possível perceber uma referência a um trecho de “Toda Forma de Amor” (de Lulu Santos, 1988).


10- “Robocop Gay”
Escrita por Alecsander Alves Leite (Dinho) e Júlio César Barbosa (Júlio Rasec)

A música foi escrita sob encomenda do político Geraldo Celestino, então candidato de Guarulhos, para animar "showmícios" durante as eleições de 1994. Inicialmente batizada de "Demerval, o Machão", a música foi gravada de primeiro take, ou seja, a primeira gravação é a que está no disco final lançado. "Robocop Gay" foi uma das 2 canções – juntamente com “Pelados em Santos” - que foram gravadas numa fita demo que os Mamonas enviaram a várias gravadoras, e que os fez assinar com a EMI. Em entrevista ao extinto programa Jô Soares Onze e Meia do SBT, os Mamonas admitiram que a letra teve inspiração de um personagem do próprio Jô Soares (1938-2022), o Capitão Gay. Versões ao vivo da canção contavam com o "Melô do Piripiri (Je Suis la Femme)" (de Mister Sam, 1981) da cantora Gretchen, inserido antes do refrão. A princípio da canção, o gay é descrito de forma caricata, o que seria inaceitável hoje em dia, porém, na metade da música, Dinho muda o tom conscientizando que homossexual também é um ser humano. “A letra de 'Robocop Gay' brinca com a ideia de transformação e identidade sexual, utilizando a figura de um 'robô' que passa por mudanças físicas e comportamentais. A música desafia estereótipos e preconceitos, sugerindo que, independentemente das diferenças, todos têm o direito de ser quem são, sem medo de julgamentos ou discriminação.” (Letras . Mus . Br / Terra)


11- “Bois Don’t Cry”
Escrita por Alecsander Alves Leite (Dinho)

Paródia da música sertaneja, o título bilíngue da faixa é uma alusão à "Boys Don't Cry" (de Robert Smith, Lol Tolhurst e Michael Dempsey, 1979) da banda The Cure com forte influência no arranjo e no vocal do cantor Waldick Soriano (1933-2008). E há um trecho da música "Tom Sawyer" (de Geddy Lee, Neil Peart, Alex Lifeson e Pye Dubois, 1981) da banda canadense Rush e a parte mais pesada da música usa como base a canção "The Mirror" (de James LaBrie, John Myung, John Petrucci, Kevin Moore e Mike Portnoy, 1994) do grupo americano Dream Theater. Uma referência ao filme “Contatos Imediatos de Terceiro Grau" (“Close Encounters of the Third Kind”, EMI Films, 1977) termina a música. Outras referências são uma piada musicada por Juca Chaves (1938-2023) intitulada "Sou Sim e Daí", presente no seu álbum “Ao Vivo” (Phonogram / hoje Universal Music, 1972) e a famosa frase “Ser ou não ser, eis a questão” (“To be, or not to be, that is the question”) da peça “A Tragédia de Hamlet, Príncipe da Dinamarca” (“The Tragedie of Hamlet, Prince of Denmarke”, 1599-1601) de William Shakespeare (1564-1616). Essa é uma das minhas músicas preferidas dos Mamonas pela inclusão de “The Mirror” do Dream Theater, “Tom Sawyer” de Rush e Juca Chaves.


12- “Débil Metal”
Escrita por Alecsander Alves Leite (Dinho), Júlio César Barbosa (Júlio Rasec), Alberto Hinoto (Bento Hinoto), Sérgio Reis de Oliveira (Sérgio Reoli) e Samuel Reis de Oliveira (Samuel Reoli)

O nome é um trocadilho unindo a expressão débil mental, inadequada nos dias de hoje, com heavy metal/death metal. Dinho canta a música num estilo que lembra bastante o de Max Cavalera, então líder do Sepultura. Esse metal cuja letra consiste em frases desconexas em inglês é uma sátira para quem não se importa com a letra ou não tem ideia do que ela se trata e se interessa mais com a estética da música, como está claro no refrão em que Dinho canta no idioma estrangeiro: “você não entende? / Você não entende, cara? / Então sacuda a cabeça/ então sacuda a cabeça, otário!”


13- “Sábado de Sol”
Escrita por Pedro Knoedt, Felipe Knoblitch e Rafael Ramos

Esta é uma das duas únicas canções que não são de autoria dos Mamonas, sendo composta pelos 3 membros da banda Baba Cósmica: Pedro Knoedt, Rafael Ramos - filho do produtor João Augusto Soares, diretor artístico da gravadora EMI na época - e Felipe Knoblitch. Gravá-la foi um modo de fazer um agradecimento ao Rafael Ramos, que apadrinhou a banda e bancou sua contratação na gravadora de seu pai. Rick Bonadio teve a ideia de transformar o registro em uma vinheta, tal como “Sabão Crá-Crá”, durando menos de um minuto e com o acompanhamento solitário do violão. Foram feitas duas versões vocais. Na primeira, os cinco debochavam da pronúncia carioca do Baba Cósmica. Na segunda, atacavam com a pronúncia guarulhense um tanto quanto italianada. Na seleção final foi escolhido o take inicial.


14- “Lá Vem O Alemão”
Escrita por Alecsander Alves Leite (Dinho) e Júlio César Barbosa (Júlio Rasec)

É um trocadilho com o nome de um pagode de muito sucesso na época, "Lá Vem o Negão" (de Zelão, 1993) do grupo Cravo e Canela. Nesta canção, Dinho satiriza os estilos vocais dos cantores Luiz Carlos do grupo Raça Negra (primeira parte) e Netinho de Paula, então líder da banda Negritude Júnior, cujo o percussionista Fabinho participou da música, juntamente com Leandro Lehart do Art Popular, no cavaquinho. Segundo Dinho, esta foi a música que deu mais trabalho para fazer, porque eles não sabiam tocar pagode, e por isso tiveram que pedir ajuda aos pagodeiros.



Créditos:

Todos os créditos estão nos encartes do disco.

Dinho: vocal e violão em "Uma Arlinda Mulher"
Bento Hinoto: guitarra, violão, backing vocals e contrabaixo em "1406"
Júlio Rasec: teclado e backing vocals, vocal em "Vira-Vira" e "Uma Arlinda Mulher"
Samuel Reoli: contrabaixo e backing vocals
Sérgio Reoli: bateria e backing vocals

Músicos adicionais:
Rick Bonadio (Creuzebeck): produção, triângulo em "Jumento Celestino", scratches em "1406" e wah-wah em "1406"
Paquito: trompete em "Pelados em Santos" e "Bois Don't Cry"
César do Acordeom: acordeom em "Jumento Celestino"
Leandro Lehart (Art Popular): cavaquinho em "Lá Vem o Alemão"
Fabinho (Negritude Júnior): percussão em "Lá Vem o Alemão"

Demais créditos:

Produção: Rick Bonadio
Direção artistica: João Augusto
Gravado no Estúdio Bonadio, em São Paulo, por Rick Bonadio, Rodrigo Castanho e Junior Lane
Mixado no Estúdio The Enterprise, em Los Angeles, Estados Unidos, por Jerry Napier
Assistente técnico: Roger Sommers

Fotografia: André Paoliello
Ilustração: Carlos Sá
Concepção da capa: Mamonas Assassinas
Projeto gráfico: Mario Busch e Patricia Delgado
Fotolito: Intek


Fontes:

“Brasil Exclusivamente” - A Grande Orquestra de Paul Mauriat (1977)



Eu tinha comprado este ótimo LP do maestro Paul Mauriat (1925-2006) em uma dessas feiras da pulga que houve aqui em Itajaí. Além do arranjador americano Ray Conniff (1916-2002), o músico francês é um dos maestros estrangeiros que tem mais empatia com a música brasileira, sempre com a roupagem luxuosa de orquestra de cordas e metais. O “Brasil Exclusivamente” lançado em 1977 pela Phonogram (hoje Universal Music) reúne algumas das músicas nacionais que foram sucessos até então, como “Só Louco” na regravação da Gal Costa (1945-2022), “Moça” de Wando (1945-2012), “Mulher Brasileira” de Benito di Paula e “Não Deixe o Samba Morrer” da Alcione. E por falar em Alcione, há uma curiosidade neste disco: a faixa “Sabiá Marrom”, composta pelo próprio Paul e Pierre Delanoë (1918-2006), foi feita especialmente para a cantora. A letra ficou por conta dos brasileiros Totonho e Paulinho Rezende. Alcione havia gravado dois anos depois para o seu LP “Gostoso Veneno” (PolyGram / hoje Universal Music, 1979), mas a música ficou de fora, sendo resgatada apenas em 2010 pelo jornalista Rodrigo Faour para o CD “Sabiá Marrom: O Samba Raro De Alcione” que foi o álbum de faixas raras e sobras de estúdio da fase inicial da carreira da maranhense.

Confira a lista de faixas e sinta o peso do luxo desse disco!



“Brasil Exclusivamente”
A Grande Orquestra de Paul Mauriat
℗ 1977 Discos Philips / Companhia Brasileira de Discos Phonogram (hoje Universal Music Brasil)


“Este é o meu terceiro LP reunindo as minhas canções preferidas do mais musical dos países: o Brasil. Desta vez, além das músicas, pude utilizar na gravação a arte e o talento dos seus músicos, bem como o engenho dos técnicos de som do mais moderno estúdio da América Latina: o da Phonogram, no Rio de Janeiro.
A todos esses profissionais, que me proporcionaram a realização desse trabalho de grande satisfação pessoal, a minha eterna gratidão, extensiva igualmente e compositores desta música maravilhosa que é, sem dúvida, a música brasileira.
Muito obrigado,
Paul Mauriat”


Ficha Técnica:
Gravado nos Estúdios da Phonogram, Rio de Janeiro
Técnico de Gravaçāo: Luigi Hoffer
Mixado no Studio des Dames, Paris
Técnico de Mixagem: Dominique Poncet
Produzido por PAUL MAURIAT para a PHONOGRAM
Lay out da capa: LOBIANCO
Arte Final: ARTHUR FRÓES


1. MULHER BRASILEIRA - (3:13)
Escrita por Benito di Paula, 1975

2. MORTE DE UM POETA - (3:34)
Escrita por Totonho e Paulinho Rezende, 1976

3. SABIÁ MARROM - (2:54)
Música de Paul Mauriat e Pierre Delanoë
Letra de Paulinho Rezende e Totonho

4. SÓ LOUCO - (3:00)
Escrita por Dorival Caymmi, 1955

5. JUÍZO FINAL - (2:45)
Escrita por Nelson Cavaquinho e Elcio Soares, 1973

6. MOÇA - (3:24)
Escrita por Wando, 1975

7. NÃO DEIXE O SAMBA MORRER - (4:41)
Escrita por Edson Conceição e Aloísio Silva, 1975

8. QUALQUER COISA - (2:44)
Escrita por Caetano Veloso, 1975

9. MULHERES DE ATENAS - (2:37)
Escrita por Chico Buarque e Augusto Boal, 1976

10. TRANQUEI A VIDA - (2:47)
Escrita por Ronnie Von e Tony Osanah, 1976

11. SEM AÇÚCAR - (2:07)
Escrita por Chico Buarque, 1975

12. PAVÃO MYSTERIOZO - (3:42)
Escrita por Ednardo, 1974




PLATAFORMAS DIGITAIS. É o fim das fichas técnicas musicais? Não é bem assim.



Essa ilustração acima eu sempre vejo em várias páginas do Instagram, desde os mais saudosistas até os que falam de autismo ao se tratar de hiperfoco, um dos sinais do transtorno.
HIPERFOCO NO AUTISMO: A ilustação mostra uma pessoa consolando a outra que chora, porque o modelo de placas de automóveis são diferentes e mais modernos, porém não identifica a origem do automóvel como antigamente, o que deixa o interessado inconformado. E por que eu eu estou citando esse desenho? Porque é a mesma sensação que eu tive quando se extinguiram as mídias físicas (LP's, CD's e DVD's), já que eu gostava / gosto tanto de olhar quem são os compositores, músicos participantes, arranjadores, produtores musicais e fotógrafos de capa em contracapa e encarte. "Ah, mas tem ficha técnica em vídeos-áudios oficiais no YouTube, no Wikipédia, no IMMuB (Instituto Memória Musical Brasileira), no Discogs... " sim, claro que tem, ainda bem, com a (quase) extinção das mídias físicas no Brasil e a evolução da internet. O problema é que nem sempre e nem de todos os álbuns/discos. E nem todas as fotos de etiquetas ou encarte de LP's em venda no Mercado Livre são legíveis ou nítidas. Em CD's, então, em que só há fotos de capa, contracapa e estampa do disco...

quarta-feira, 5 de março de 2025

A Bíblia e a MPB 06 - "Luz do Sol" - Caetano Veloso (1982)


Caetano Veloso

“Deus viu que tudo era muito bom” (Gênesis 1,31).


"Luz do Sol" (1982) foi escrita e primeiramente gravada por Caetano Veloso para o filme "Índia, A Filha do Sol" (Embrafilme / Filmes do Triângulo / Luiz Carlos Barreto Produções Cinematográficas, 1982) e ganhou regravações de inúmeros artistas. Mais uma vez frei Gustavo Medella usa brilhantemente um clássico da MPB para explicar o Evangelho. Esse texto publicado na Folhinha do Sagrado Coração de Jesus de 2024 se encaixaria com o tema da Campanha da Fraternidade desse ano que se inicia hoje junto à Quaresma (5 de março) com o tema "Fraternidade e Ecologia Integral" e o lema "Deus viu que tudo era muito bom" (Gn 1,31). 



BÍBLIA E MPB-6

Luz do sol. "Luz do sol, que a folha traga e traduz em verde novo, em folha, em graça, em vida, em força, em luz."
Nestes versos, o autor, Caetano Veloso, demonstra admiração e reverência pela dinâmica da natureza, que transforma luz, água, terra e ar em beleza, na sabedoria das flores. Jesus Cristo, no Evangelho, também exalta a criatividade divina quando convida: "Olhai como crescem os lírios do campo: eles não trabalham nem fiam. Porém eu vos digo, nem o Rei Salomão, em toda a sua glória, jamais se vestiu como um deles" (Mt 6,28-29). A capacidade de se admirar com a beleza inscrita por Deus na obra da criação é sinal de maturidade da parte do ser humano.

Frei Gustavo W. Medella, OFM
@freigustavomedella


Verso da página do dia 26 de dezembro de 2024 da Folhinha do Sagrado Coração de Jesus, Editora Vozes.



Festa de Lançamento do "Clube do Samba" (Fantástico, 1979)

"Meninos da Mangueira" - Ataulpho Jr. e Diogo Nogueira no programa "Samba da Gamboa" na TV Brasil