"O que é de verdade ninguém mais hoje liga: isso é coisa da antiga" - Ney Lopes e Wilson Moreira

Elsa (Frozen) ♥

domingo, 4 de março de 2018

"Dalida" (filme cinebiográfico de 2016)



"Eu que escolhi tudo na minha vida, eu também quero escolher minha morte.
Há aqueles que querem morrer em um dia chuvoso e outros em pleno dia ensolarado
Há aqueles que querem morrer sozinhos na cama
Tranquilos em pelo sono
Eu quero morrer no palco
Em frente dos projetores
Sim, eu quero morrer no palco
O coração aberto a todas as cores
Morrer sem qualquer dor na última apresentação
Eu quero morrer em cena, cantando até o fim."

Tradução do trecho da música "Mourir Sur Scène" ("Morrer no Palco") (de Michel Jouveaux e Jeff Barnel, 1983) gravada por Dalida (clique aqui para ouvir a música no YouTube)



Eu sempre havia ouvido falar na cantora ítalo-egípcia Dalida (1933-1987), como também conheço poucas de suas músicas e sua vida trágica. Mas recentemente tomei conhecimento sobre a existência do filme "Dalida" (Pathé Films, 2016), uma cinebiografia sobre uma artista poliglota que tinha tudo para dar certo e eu confesso que chorei feito bebê ao assistir ao longa. Dona de uma voz grave suave, Dalida era uma mulher cheia de valores que tinha sua vida marcada por vitórias, decepções amorosas, depressão e distúrbios alimentares _o filme retrata tudo isso_ até suicidar-se em 3 de maio de 1987 aos 54 anos em Paris ingerindo uma overdose de barbitúricos. "Dalida" foi dirigido pela cineasta Lisa Azuelos com a colaboração de Orlando (Bruno Gigliotti), irmão de Dalida, e protagonizado pela atriz e modelo italiana Sveva Alviti que teve que aprender francês para o papel e foi escolhida para o filme entre 250 candidatas. O idioma materno de Dalida era o italiano, apesar de ter aprendido o árabe egípcio e também o francês enquanto crescia no Cairo. Ela aprimoraria o seu francês na fase adulta, após se estabelecer em Paris em 1954, tornando-se em seguida fluente em inglês e aprendendo também conversações básicas em alemão e espanhol, além de possuir certa facilidade em cumprimentar seus fãs do Japão utilizando japonês básico. No filme, os idiomas são principalmente italiano e francês , mas também há um pouco de inglês e árabe. "Dalida" entrou em cartaz no ano passado, 2017, nos cinemas europeus. No Brasil, foi exibido em outubro do mesmo ano em quatro sessões no Festival do Rio, no Rio de Janeiro, dentro da mostra Panorama do Cinema Mundial (Coluna de Bruno Astuto, site Revista Época).


Sveva Alviti no papel de Dalida

Orlando, irmão de Dalida, e Sveva Alviti




Seu nome é Yolanda

 Dalida (1933-1987) na década de 1970

Dalida em 1961



Yolanda Christina Gigliotti, filha de pais italianos, nasceu em 17 de janeiro de 1933 em Shoubra, um distrito da cidade do Cairo, no Egito. Seu pai era violinista de ópera e desde menina passou a receber lições de música. A bela Yolanda foi eleita a Miss Egito em 1954 aos 21 anos, em seguida apareceu  em alguns filmes no Egito creditada inicialmente apenas como Yolanda e depois como Dalila, uma alusão à personagem bíblica que seduziu e traiu o juiz Sansão, e mudou-se para a França, onde deu início a sua respeitável carreira musical. Apesar do seu talento e beleza, a carreira no cinema não foi satisfatória, então aceitou cantar em vários idiomas, inclusive italiano e francês, em cabarés, teatros e casas de shows. Se inscreveu para um programa de calouros para jovens cantores promovido por Bruno Coquatrix (1910-1979) no famoso teatro Olympia em Paris. A interpretação da cantora encantou Coquatrix que logo a apresentou ao Eddie Barclay (1921-2005), produtor musical e fundador da gravadora Barclay e Lucien Morisse (1929-1970), produtor artístico do popular Radio Europe 1 e da Barclay e o que seria o marido de Dalida. Barclay  e Morisse desempenhariam papel fundamental na carreira da artista e aconselharam a cantora a adotar um novo nome artístico, Dalida, que para eles soaria melhor.
Em 1957 Dalida lançou seu primeiro álbum pela Barclay Records (hoje selo subsidiário da Universal Music), "Son Nom Est Dalida" (em português, "Seu Nome é Dalida") com o sucesso "Bambino" (música original de Giuseppe Fanciulli e Nicola "Nisa" Salerno e adaptação para o francês de Jacques Larue), versão da música napolitana "Guaglione". "Bambino" seria o grande sucesso da cantora, ficando 46 semanas nas paradas Top 10 da França, representando uma das maiores vendagens de discos na história francesa, e por suas vendas (que ultrapassaram as 300.000 cópias) Dalida recebeu seu primeiro disco de ouro. Em toda a sua carreira, Dalida vendeu mais de 170 milhões de cópias, ganhou 55 Discos de Ouro e foi a primeira cantora no mundo a receber um Disco de Diamante, em 1980. Gravou mais de 500 músicas em francês, 200 das quais foram traduzidas para o italiano e 200 para outras línguas.  Se aderiu a vários gêneros musicais, como chanson, folk, pop árabe e até disco na década de 1970, uma fase que, na cinebiografia intensamente triste sobre a cantora, é retratado como um alívio dançante e empolgante. No auge de seus problemas sentimentais cantava músicas com letras profundamente melancólicos e liberais que soam pessoais, como a releitura de "Je Suis Malade" (de Serge Lama e Alice Dona, 1973), isto é, "eu estou doente", e "Il Venait d'avoir 18 Ans" (de Pascal Sevran, Serge Lebrail, pseudônimo de Simone Gaffie, e Pascal Auriat, 1974), ou seja, "ele havia acabado de fazer 18 anos", que alude a um romance secreto que Dalida, no auge da fama aos 34 anos, tinha com um estudante italiano que na verdade tinha 22 anos, isto depois que ela havia tentado se matar depois do suicídio de seu namorado, o cantor italiano Luigi Tenco (1938-1967).


Pour Ne Pas Vivre Seul
(Para não viver só)

Dalida teve em sua vida três homens suicidas, sendo que o único que suicidou-se durante o relacionamento foi o cantor Luigi Tenco, e se sentia cada vez mais sozinha e pesarosa por passar sua vida inteira dedicada a sua carreira e a homens que ela acreditava serem o ideal a cada relacionamento, além do fato de não ter podido exercer a maternidade. Lucien Morrise, o primeiro marido da cantora, suicidou-se em 1970 e Richard Chanfray, em 1983.
Dalida e seu produtor Lucien Morrise, casado e pai, iniciam um romance. Lucien prometeu a Dalida que iria se divorciar da esposa para ficar com ela, mas isso demorou vários anos e conseguiu. Os dois se casaram em 1961. Viciado em trabalho, Lucien não tinha tempo para a esposa e esta sentia-se abandonada e se apaixonou por um outro rapaz em uma festa. Dalida e Lucien se divorciaram amigavelmente em 1964. O novo namorado começou a chatear-se com a ausência de Dalida devido aos compromissos profissionais da cantora e os dois terminaram.
Dalida em seguida namorou o talentoso e perturbado cantor e compositor italiano Luigi Tenco (1938-1967). Os dois iriam defender no Festival de San Remo de 1967 a canção profeticamente intitulada "Ciao Amore Ciao" ("tchau, amor, tchau") a qual Luigi Tenco havia trabalhado por cinco anos no estilo musical daquele tempo. Mesmo sem entendê-la, muitos brasileiros e até eu mesma interpretamos a música como uma despedida de um casal, mas na verdade, fala de uma decisão dos italianos de deixarem o país em razão das guerras e da recessão econômica. Decepcionado com a rejeição do público ao "Ciao, Amore, Ciao" que foi desclassificada, Tenco saiu do evento sem ao menos comparecer ao jantar pós-apresentações dos artistas. Depois da festa, Dalida foi ao hotel onde o namorado chateado foi hospedado e o encontrou morto no chão de seu quarto. Luigi Tenco suicidou-se naquela noite com tiro na orelha como forma de protesto contra a decisão dos jurados e não porque estava cansado de viver. Abalada, Dalida entrou em depressão e, um mês depois, em Paris, tentou o suicídio ingerindo remédios no mesmo quarto de hotel onde ela e Tenco se hospedaram antes do Festival San Remo.
Em 1973, o novo parceiro de Dalida foi Richard Chanfray (1940-1983), um alquimista com problemas psicológicos que dizia ter poderes paranormais como ressuscitar animais mortos e transformar metal comum em ouro e alegava ter 17 mil anos de idade e ser a reencarnação do misterioso Conde de Saint Germain (1696-1784). No começo os dois viveram um romance tórrido, mas depois de um certo tempo, Richard se revelou um homem agressivo, machista e insuportável. As brigas se tornam frequentes e Dalida tenta se separar dele, mas mudava de ideia sempre que ele fazia cenas de arrependimento e sentimentalismo tão intensas a ponto de ela ter compaixão e lhe conceder novas chances. Isso até 1981, quando Dalida finalmente decidiu romper o relacionamento.

Je suis Malade
(Eu Estou Doente)

Durante 31 anos de sucesso, Dalida tinha um incrível dom de transmitir alegria, carisma e otimismo, mas por dentro estava ferida profunda e sentimentalmente. Ela tinha de depressão e sofria de bulimia. Na infância, aos 3 anos, contraiu uma infecção nos olhos que a cegou por pouco tempo e a deixou estrábica. Era vítima de bullying de suas colegas de escola por usar óculos devido ao problema na visão e perdeu seu pai aos 12. Ela mesma revelou que aos 16 anos decidiu descartar seus óculos, se convencer de que era bonita e se vingou ao ser eleita a Miss Egito aos 21, sua primeira grande volta por cima. Após anos de buscas através da leitura sobre filosofia e psicologia e da religião e misticismo a fim de preencher o vazio que a jogara em profunda solidão em virtude de abandonos afetivos e juras não cumpridas, Dalida  suicidou-se aos 54 anos de idade no dia 3 de maio de 1987
Antes de morrer, havia deixado uma carta a seu irmão Orlando e outra ao seu companheiro François Naudy, além de uma nota de suicídio ao seus fãs com a frase: "me perdoem, a vida se tornou insuportável para mim".

Fontes:
https://www.letras.com.br/biografia/dalida
https://pt.wikipedia.org/wiki/Dalida

"Dalida" (trailer de Portugal legendado em português)

Músicas executadas no trailer interpretadas por Dalida (em ordem de execução):

"Besame Mucho"("Embrasse-Moi")
Música de Consuelo Velasquez
Adaptação para o francês de Pascal Sevran e Serge Lebrail
(P) 1976 Orlando International Shows / Universal Music Group

"Je Suis Malade"
Escrita por Serge Lama e Alice Dona
(P) 1973 Orlando International Shows / Universal Music Group


Um comentário:

  1. Tenho muita vontade de assistir este filme. Outro dia, consegui baixar um outro, mas tenho certeza que este é bem melhor e muito fiel à biografia, além da semelhança entre a atriz (Sveva Alviti) e a nossa eterna Diva.

    Parabéns pelo blog e pela excelente pesquisa sobre esta intérprete magistral.

    ResponderExcluir

Moderação de comentários ativada. Aguarde a publicação.

Festa de Lançamento do "Clube do Samba" (Fantástico, 1979)

"Meninos da Mangueira" - Ataulpho Jr. e Diogo Nogueira no programa "Samba da Gamboa" na TV Brasil