"O que é de verdade ninguém mais hoje liga: isso é coisa da antiga" - Ney Lopes e Wilson Moreira

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domingo, 18 de dezembro de 2022

Canções de Natal também podem ser tristes

 


Chegou a época do Natal em que muitos de nós nos sentimos felizes por nos deixar levar pelas belas decorações, clima de inocência, reunião de amigos e familiares e celebrações religiosas (e, no meu caso, pelos especiais do meu muso Roberto Carlos também. Risos). Porém, nesta época nem tudo são luzes. Seja por qual for o motivo, a angústia e a tristeza nos pesam por dentro e esse sentimento no período das festas é bem mais comum do que se imagina. Algumas músicas natalinas mais populares retratam essa realidade. Vamos a elas!

Aqui no meu blog eu fiz uma postagem (clique aqui) sobre a canção "Boas Festas" (1933) (aquela do "anoiteceu / o sino gemeu / e a gente ficou / feliz a rezar") que muitos cantam sem ao menos saber do que ela se trata. "Boas Festas" mostra como eram os natais do próprio compositor Assis Valente (1911-1958) e dos brasileiros mais necessitados financeiramente, uma situação bem atemporal. Ela retrata que nem todos têm o privilégio do consumismo e realização dos seus sonhos, resultando em angústia e frustração em pessoas menos favorecidas: "eu pensei que todo mundo fosse filho de Papai Noel / bem assim felicidade eu pensei que fosse uma brincadeira de papel / já faz tempo que eu pedi, mas o meu Papai Noel não vem / Com certeza já morreu ou então felicidade é brinquedo que não tem".
Ainda falando em desigualdade social, o rei Roberto Carlos lembra as famílias carentes e sem mesa farta na música cristã "Meu Menino Jesus" (de Roberto Carlos e Erasmo Carlos, 1998), na qual ele canta: "te peço, Menino Jesus, ponha na mesa de alguém / o que esse alguém sempre quis e não tem / felicidade também".
A canção natalina americana "The Little Boy That Santa Claus Forgot" (de Michael Carr, Tommie Connor e Jimmy Leach, 1937) gravada primeiramente por Vera Lynn (1917-2020) e eternizada na voz de Nat King Cole (1919-1965) descreve um garotinho esquecido pelo Papai Noel, como o próprio título diz. Enquanto outras crianças se divertem com seus brinquedos novos, o que faz com que ele sinta inveja delas, o menino está triste e solitário e, no final, a letra revela que o menino não tem pai (acredita-se que o pai morreu), dando a impressão de que este seria o verdadeiro motivo pelo qual ninguém havia comprado um brinquedo para ele. Uma música semelhante até no título é a brasileiríssima "Papai Noel Esqueceu" (de Herivelto Martins e David Nasser, 1956) interpretada lindamente por Ângela Maria (1929-2018), a eterna Rainha do Rádio e lady "Babalú" (de Margarita Lecuona, 1939) em dueto com João Dias (1927-1996).
"Sofrências" de Natal? Também existem. E na levada do samba-canção, um dos meus estilos musicais preferidos, que são "Amargo Presente" da autoria de Cartola (1908-1980) lançada postumamente em 1983 pela Beth Carvalho (1946-2019) e "Meu Natal" (1961) de Lupicínio Rodrigues (1914-1974) gravada por Jamelão (1913-2008), esta que fala de um homem que ao longo de sua vida teve muita sorte, mas que esta sorte foi rompida depois que o destino o separou de seu grande amor. E ele, inconformado, conclui: "sabe o que o Papai Noel me trouxe este ano? / Foi um cesto, foi um cesto / com tristeza e desengano".
"Please Come Home for Christmas" (de Charles Brown e Gene Redd, 1960) do cantor, compositor e pianista Charles Brown (1922-1999) que foi regravada por Kelly Clarkson, CeeLo Green e bandas Bon Jovi, Eagles e Hanson fala de alguém solitário que se entristece por não ter ninguém para lhe desejar boas festas e anseia para que uma pessoa em especial passe o Natal com ele em casa.
Dando sequência à solidão natalina, outra postagem que eu fiz aqui (clique aqui) é sobre a canção "Santa, Can't You Hear Me?" (de Aben Eubanks e Kelly Clarkson, 2021) da cantora Kelly Clarkson em dueto com Ariana Grande. Ela fala sobre uma moça que rejeita presentes materiais e pede ao Papai Noel alguém para amar, mas esse alguém não chega.
Na outra postagem (clique aqui) falei sobre "Para Não Ser Triste" (de Edson Borges de Abrantes e Lula Vieira, 1971), uma música que era para ser apenas um jingle de Natal do Banco Nacional, mas que superou várias expectativas se tornando uma das mais belas canções populares do Brasil de todos os natais. A letra é uma forma de consolar os que estão angustiados, porém sem "forçar a barra" para mudar o astral: "quero ver você não chorar não olhar pra trás, nem se arrepender do que faz/ quero ver o amor crescer, mas se a dor nascer você resistir e sorrir". Afinal, nem próprio Deus prometeu que a nossa vida aqui na Terra seria só de felicidade, mas que nos incentiva a lidar com dificuldades com fé.

A música que eu citarei a seguir não é nada natalina, mas que, a meu ver, merecia ser lembrada na época graças ao conteúdo da letra. "Azul da Cor do Mar" (1970) do Tim Maia (1942-1998) com a participação de ninguém menos que Rildo Hora no solo de gaita (own, que lindo! Risos) é uma história sobre alguém que vê os outros que, ao contrário dele, têm uma vida próspera e sonhos concretizados, uma situação semelhante à das músicas "Boas Festas" e "The Little Boy That Santa Claus Forgot", mas ele, embora profundamente triste e frustrado, se conforma com a realidade: "ah, se o mundo inteiro me pudesse ouvir / tenho muito pra contar e dizer que aprendi / que na vida a gente tem que entender / que um nasce pra sofrer / enquanto o outro ri". Em seguida, aconselha aos que estão na mesma melancolia a cumprir suas missões que são "achar razão para viver" e ter "um motivo pra sonhar'', ou seja, como uma mensagem de Natal, mesmo que nada aconteça como nós queremos tanto e por mais tristeza que a vida traga, deixar que Jesus Cristo, a razão certa e maior do Natal, nasça em nossos corações.

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